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Podemos considerar que somos maioria, afinal 51,48% da população brasileira é do sexo feminino. Votamos, trabalhamos, criamos nossas filhas e filhos e tentamos continuar os estudos, apesar das barreiras que vão surgindo no caminho. Entretanto, temos menor remuneração, sofremos mais assédio, estamos mais sujeitas ao desemprego e estamos sub-representadas na política.
A realidade aponta que, além da rotina exaustiva de trabalho, dedicamos mais tempo aos cuidados domésticos do que os homens. Pergunte, por exemplo, para as famílias mais próximas de você, quem pensa sobre o que tem disponível na despensa e geladeira, qual o próximo cardápio, se a roupa foi lavada, estendida, recolhida, passada e guardada, quem ajuda os filhos nos temas da escola e quem os leva para as consultas quando necessário? Aliás, aproveite e questione quem fica mais responsável pela educação sexual, principalmente das filhas? E por que a preocupação é maior com as filhas? Sim, sabemos que aqui tudo é perdoado nos homens. Assistimos essa absolvição de várias formas: na letra de uma música, nas oportunidades desiguais de trabalho, em casos de gravidez quando ele é isento de maiores responsabilidades.
A desigualdade de gênero em termos salariais e de oportunidades é evidente. Sabemos que muitas mulheres sustentam e criam seus filhos(as) sozinhas. Quando recebem pensões para "ajudar" na criação, muitas vezes os valores são irrisórios e ainda escutam absurdos por isso, como se conseguissem, com o troco, tirar uns dias em Paris. Muitas não conseguem sequer tirar férias pela falta de condições financeiras e, também, pelo progenitor negar-se a ficar alguns dias com os(as) filhos(as), pois está sempre "muito ocupado". Pesquisas dos últimos anos do IBGE apontam que mais de 80% das crianças têm como primeiro responsável uma mulher e 5,5 milhões sequer têm o nome do pai no registro de nascimento.
Além disso, ouvimos "piadinhas" de toda a ordem. Experimente perguntar para as mulheres que você conhece se já vivenciaram assédio. Se elas tiverem coragem, provavelmente terão uma (ou mais) histórias para contar. Por que precisa coragem para revelar? Porque moramos em um país que dá voz aos homens e abafa a das mulheres.
Viver em uma nação em que o próprio dirigente já desferiu a frase "não te estupro porque você não merece" e algumas pessoas concordam com isso, só piora as coisas. Estamos exaustas! Queremos e exigimos respeito. Não suportamos mais tantos absurdos vindos de todos os lados.
Estamos entre os primeiros países do mundo em notificações de casos de violência contra as mulheres. Avanços inegáveis foram alcançados com a Lei Maria da Penha e do Feminicídio e, apesar disso, a luta contra o machismo é todo dia. Não bastava o aumento de notificações de casos de violência contra mulheres nesse período de isolamento, feminicídios de norte a sul do Brasil, ainda assistimos, estupefatas, ao resultado do julgamento do caso da Mari Ferrer. Simplesmente o estuprador foi liberado por ter feito tal ato "sem querer". Como acontece um estupro "sem querer"?
Se a intenção é nos amedrontar para não denunciar casos de abuso, estão enganados. Mulheres: denunciem! Não tenham medo. Estaremos com vocês, até o fim. Não está fácil ser mulher no Brasil, mas continuaremos lutando por dias melhores.
#justiçaparaMariFerrer